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Em meio à crise, empresas lucram
Balanços do primeiro semestre revelam ganhos expressivos de companhias que apostaram em novos produtos ou souberam aproveitar o momento
Ricardo Allan
Algumas empresas conhecidas do consumidor brasileiro estão passando incólumes pela crise internacional. Num momento em que a produção industrial despenca e outros indicadores patinam, companhias com ações negociadas em bolsa tiveram um desempenho extraordinário no primeiro semestre. Os balanços daquelas com maior vocação para o mercado interno — impulsionadas pelo aumento da renda do trabalhador — apresentam lucros maiores. Quem depende da demanda externa ainda enfrenta dificuldades, mas deve se beneficiar daqui para frente. No ranking das principais firmas, a operadora de telefonia celular Vivo saiu na frente, com crescimento de 883,1% nos ganhos, seguida pela Net Serviços (252,8%) e pela rede de varejo Pão de Açúcar (166,9%).
O lucro líquido (1)da Vivo saltou de R$ 30,1 milhões no primeiro semestre de 2008 para R$ 295,9 milhões em período idêntico deste ano (veja tabela). No segundo trimestre do ano passado, a companhia registrou um prejuízo de R$ 66,9 milhões por causa de promoções. Mas conseguiu aumentar sua carteira em 5 milhões de celulares no Dia das Mães e dos Namorados. “A redução do lucro no período não foi uma destruição de valores. Foi uma perda momentânea para ganharmos depois. Estamos crescendo de forma convincente neste ano”, diz o diretor de relações com os investidores, Carlos Raimar. Maior empresa do setor, ela tem 46,8 milhões de clientes e concentra 33% das receitas do segmento.
Segundo Raimar, a racionalização de custos, depois da incorporação de várias empresas nos últimos anos, ajudou a Vivo a aperfeiçoar seus resultados operacionais. Para enfrentar a crise, que poderia reduzir o número de usuários, a companhia baixou o valor mínimo do cartão pré-pago de R$ 10 para R$ 3. Com isso, as pessoas puderam manter seus celulares ativos, pelo menos para receber ligações. “Perdemos alguns clientes com a crise, mas ganhamos outros. No fim das contas, ficamos no positivo”, garante Raimar.
Em vez de atrapalhar, a turbulência até ajudou algumas companhias. É o caso da Net, provedora de televisão a cabo, internet de banda larga e telefonia fixa. “Sem dinheiro para gastar em restaurantes ou em compras e com medo do desemprego, muitas pessoas ficaram mais tempo se divertindo em casa. Isso ajudou a venda dos nossos produtos”, afirma o vice-presidente de marketing e vendas, Eduardo Aspesi.
A Net tem apostado na segmentação dos produtos, adaptados à necessidade e disponibilidade financeira das famílias. Baseada num cruzamento de dados de renda, número de membros na família e perfil sociocultural, a empresa montou 100 planos diferentes para oferecer ao mercado. As vedetes são um pacote de 25 canais de televisão e internet de baixa velocidade para as classes B e C, a um custo mensal de R$ 39,90, e uma franquia de telefone fixo a R$ 16. “A renda dessa faixa da população vem crescendo. Vamos continuar penetrando nesse segmento de mercado”, afirma Aspesi. A outra estratégia para expandir os negócios é oferecer novos produtos, como antivírus e a TV digital.
O lucro do grupo Pão de Açúcar passou de R$ 84,9 milhões para R$ 226,6 milhões. O vice-presidente financeiro, Enéas Pestana, atribui parte do crescimento à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca (geladeira, fogão, máquina de lavar e tanquinho). “A crise não nos afetou. Estávamos bem preparados para enfrentá-la e isso está refletido nos resultados e no clima interno favorável”, diz. O economista Douglas Uemura, da LCA Consultores, chama a atenção para as vendas do varejo. “Depois do tombo, o comércio e os serviços se recuperaram rapidamente, puxados pela renda do trabalhador, que cresceu 4,5% em média no país”, afirma.
1 - Dinheiro vivo
O lucro líquido é o resultado econômico da empresa, que leva em consideração todas as receitas obtidas e as despesas pagas num determinado período. Neste cálculo, entram os ganhos com vendas de mercadorias ou prestação de serviços e gastos com a compra de matéria-prima para a produção, itens a serem revendidos, energia elétrica, impostos, salários, pagamento de empréstimos e a depreciação de máquinas e equipamentos. O lucro pode ser distribuído aos sócios ou reinvestido na ampliação da companhia.